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"A Riqueza das Nações": O legado de Adam Smith e sua perda de influência contemporânea

  • jornaldeapoioedito
  • 9 de mar.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 11 de mar.

En um dia como hoje, 09 de março, em 1776, Adam Smith publicou aquela que se tornaria uma das obras mais influentes da história da economia: Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações, ou simplesmente “A Riqueza das Nações”. Com esta obra, Smith lançou as bases do liberalismo econômico e estabeleceu conceitos fundamentais que ainda hoje são estudados e aplicados.

 

Adam Smith, escocês, foi um economista e filósofo, sendo considerado, Pai do Capitalismo e fundador da economia moderna e um grande expoente do liberalismo. Na sua obra, Smith defende a liberdade econômica, a propriedade privada e a não intervenção do Estado na economia. Ele defende que a riqueza de um país está na capacidade de produzir bens, e que para isso é necessário ter cidadãos capacitados.


Smith também defende a liberdade contratual entre patrões e empregados.

A expressão "mão invisível do Mercado", por ele popularizada, significa que os agentes econômicos atuando livremente chegariam a uma situação de eficiência. Publicada no auge da Revolução Industrial na Inglaterra, a obra “A Riqueza das Nações” serviu de base teórica para a expansão do Capitalismo industrial. 

 

O contexto histórico e os princípios fundamentais

 

No século XVIII, a Europa passava por transformações profundas. O mercantilismo ainda dominava as políticas econômicas, e o poder estatal regulava rigidamente o comércio e a produção. Foi nesse cenário que Adam Smith apresentou sua tese sobre o livre Mercado como a “mão invisível” - a ideia de que o Mercado, quando deixado livre, se auto-regula através da concorrência e do interesse próprio dos indivíduos.

 

Entre os principais conceitos abordados na obra, destacam-se:

 

- Divisão do trabalho: Smith argumentou que a especialização das tarefas aumenta a eficiência e a produtividade.

- Livre Mercado: Ele criticou as barreiras comerciais e os monopólios, defendendo a livre concorrência.

- Valor e preços: Diferenciou o valor de uso e o valor de troca, influenciando a teoria econômica futura.

- Papel do Estado: Embora defensor do Mercado livre, Smith reconhecia a necessidade de um Estado regulador em áreas como segurança, justiça e infraestrutura.

 

A Repercussão e o impacto inicial

 

A “Riqueza das Nações” teve um impacto imediato e duradouro. Sua publicação influenciou diretamente políticas econômicas e o pensamento de grandes estadistas, como William Pitt, o Jovem, na Inglaterra. O livro também serviu como fundamento teórico para o Capitalismo industrial que emergia com força no século XIX.

 

No entanto, suas ideias também enfrentaram resistência. Os defensores do mercantilismo viam com ceticismo a proposta de reduzir o controle estatal sobre o comércio. Além disso, ao longo dos séculos seguintes, economistas desenvolveram críticas e adaptações às ideias de Smith, como Karl Marx, que apontou as desigualdades geradas pelo livre Mercado e foi execrado.

 

A atualidade dos princípios de Smith

 

Mais de dois séculos após sua publicação, os princípios de “A Riqueza das Nações” ainda são amplamente debatidos. O conceito de livre Mercado continua a ser a base teórica das economias modernas, e a divisão do trabalho é essencial para a produção globalizada. No entanto, desafios como desigualdade social, crises financeiras e mudanças climáticas levantam questões sobre a necessidade de maior regulação estatal e adaptações às ideias de Smith.

 

A ascensão da economia digital e das grandes corporações levanta agora um novo dilema: até que ponto o Mercado pode se autorregular sem gerar monopólios ou distorções que afetam consumidores e pequenos empreendedores? Além disso, a globalização trouxe interdependências que exigem novas abordagens para equilibrar crescimento econômico e justiça social.

 

“A Riqueza das Nações” que moldou a economia e serviu a todos, sendo uma referência para a formulação de políticas e estratégias econômicas, foi dilacerada pela ganância de uns poucos poderosos. O equilíbrio entre livre Mercado pela mediação Estatal foi cooptada e, no mundo contemporâneo, as ideias de Smith foram distorcidas.

 

O Monstro do Mercado: Como o Neoliberalismo enterrou Adam Smith

 

Quando Adam Smith publicou “A Riqueza das Nações” em 1776, ele lançou os fundamentos do pensamento econômico moderno. Sua crença na "mão invisível" - o princípio de que o Mercado, quando deixado livre, se autorregularia através da concorrência, do interesse dos indivíduos e da mediação do Estado - foi revolucionária. Contudo, mais de dois séculos depois, o que vemos não é a harmonia de interesses imaginada por Smith, mas sim o Mercado transformado em um monstro insaciável que domina o Estado, sufoca a maioria do povo e concentra a riqueza nas mãos de uma minoria privilegiada.

 

O Mercado: De Regulador a Predador


Smith defendia que a competição seria o motor do desenvolvimento, garantindo preços justos, inovação e prosperidade coletiva. No entanto, a doutrina neoliberal que nasceu e se espalhou pelo mundo a partir do final do século XIX distorceu essa visão. O Mercado, que deveria ser um mecanismo a serviço da sociedade, tornou-se uma entidade autônoma que age em benefício exclusivo de uma elite econômica global. Em vez de regular-se, eliminou a concorrência por meio de monopólios e oligopólios, sufocando pequenas e médias empresas e impedindo o acesso democrático aos recursos.

 

O atual estágio do capitalismo neoliberal não apenas concentra riqueza em níveis inéditos na história, mas também enfraquece, deliberadamente, o Estado, transformando-o em um instrumento para garantir os interesses dos poderosos. Privatizações, desregulamentações e cortes em serviços públicos são feitos em nome da "eficiência" e da "liberdade de Mercado", mas na prática resultam na precarização da vida da maioria. Enquanto megacorporações acumulam trilhões, trabalhadores enfrentam insegurança laboral, baixos salários e falta de direitos básicos.

 

O Estado Refém e a Falácia do Livre Mercado

 

A suposta autorregulação do Mercado revelou-se um mito. A crise financeira de 2008 deixou claro que, quando os interesses da elite estão em risco, o próprio Estado - tão atacado pelo discurso neoliberal - intervém para salvar bancos e grandes empresas, garantindo que a riqueza continue a se concentrar no topo. A justificativa da "mão invisível" se esfarela diante da realidade: o Mercado não apenas falha em se autorregular, como depende do Estado por ele criticado, para manter sua estrutura de privilégios.

 

O neoliberalismo sequestrou as instituições democráticas. Campanhas políticas são financiadas por grandes corporações, que, em troca, exigem políticas econômicas favoráveis aos seus interesses. A influência do dinheiro privado sobre os governos enfraquece qualquer tentativa de regulação e impede a adoção de políticas públicas que possam reequilibrar a balança social.

 

O monstro e a miséria da maioria

 

Hoje, menos de 1% da população mundial detém mais riqueza do que os 99% restantes. Essa é a maior concentração de riqueza da história da humanidade. O modelo neoliberal prometia crescimento econômico que beneficiaria a todos, mas foi desvirtuado e usado para consolidar desigualdades abismais. Saúde, educação, moradia e trabalho digno tornaram-se privilégios, não direitos.

 

A perpetuação desse sistema se baseia na ilusão de que o sucesso individual é fruto exclusivo do mérito (?), ignorando que a estrutura econômica está deliberadamente moldada para favorecer uma pequena parcela de meritocratas protegidos. Esse monstro chamado "Mercado" não busca o bem-estar coletivo, mas sim a maximização infinita do lucro para aqueles que já detêm o poder econômico e político.

 

Conclusão: O Que Smith Diria?


Se Adam Smith estivesse vivo, ele repudiaria o neoliberalismo que hoje governa o mundo acima dos governantes. Sua concepção de livre Mercado pressupunha uma concorrência verdadeira e um equilíbrio entre os interesses individuais e o bem comum. Ele próprio alertava para os perigos da concentração de poder econômico e da captura do Estado pelos interesses privados.

 

O desafio do século XXI não é apenas regular o Mercado, mas redefinir sua função na sociedade. Enquanto o Estado permanecer refém do grande Capital e a economia continuar servindo a poucos, estaremos condenados a viver sob a tirania de um sistema que já não é apenas injusto, mas insustentável. O monstro Mercado precisa ser domado antes que devore tudo o que resta de justiça e dignidade social. Mas não há horizonte algum favorável a isso e o legado de Adam Smith foi sepultado com ele.

 

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