De Getúlio Vargas a Lula, uma luta trabalhista sem trégua
- Carlos Moraes

- 24 de ago.
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Atualizado: 25 de ago.
Getúlio Vargas e a herança trabalhista: da CLT ao presente governo Lula, uma luta de classes marcada por avanços e golpes.
BATATAIS NEWS | MEMÓRIA | 24/08/2025

Neste 24 de agosto, o Brasil relembra a morte de Getúlio Dornelles Vargas, que em 1954 tirou a própria vida no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, em meio a uma crise política acirrada. Sua morte não apenas marcou uma virada dramática na história do país, mas também simbolizou a permanente tensão entre projetos de nação: de um lado, governos trabalhistas que buscaram ampliar direitos sociais e reduzir desigualdades; de outro, elites econômicas que reagiram a cada avanço popular com resistência e golpes institucionais.
A trajetória política do Brasil ao longo do século XX e início do XXI mostra que a chamada luta de classes nunca saiu de cena. Ela se manifesta, sobretudo, no embate em torno das conquistas sociais dos trabalhadores, iniciadas na Era Vargas e retomadas, em momentos distintos, por governos como os de Luiz Inácio Lula da Silva.
A Era Vargas: direitos trabalhistas sob ataque das elites
Getúlio Vargas assumiu o poder em 1930 e, ao longo de seu governo, consolidou um conjunto de medidas que moldaram a vida do trabalhador brasileiro. Entre as mais emblemáticas estão:
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), criada em 1943, que instituiu a jornada de 8 horas, férias anuais remuneradas, descanso semanal e o salário mínimo.
Carteira de Trabalho (1932), que formalizou o vínculo empregatício.
Justiça do Trabalho (1941), criada para resolver conflitos entre empregadores e empregados.
Essas conquistas, que garantiram dignidade mínima à classe trabalhadora, tornaram Vargas um líder amado por muitos e odiado por setores da elite econômica. Sua morte, em 1954, foi resultado da pressão dessas mesmas forças conservadoras.
1964: o golpe civil-militar e a repressão social e política
Uma década depois da morte de Vargas, o Brasil vivia um novo ciclo de tensão. O golpe militar de 1964, articulado com apoio das elites civis brasileiras e o respaldo dos Estados Unidos, interrompeu o governo trabalhista de João Goulart, que pretendia ampliar direitos sociais e realizar reformas de base.
A ditadura militar (1964-1985) reprimiu sindicatos, enfraqueceu movimentos populares e reduziu o espaço democrático, adiando por mais de duas décadas a possibilidade de avanços sociais mais profundos.
A Constituição de 1988 e os novos retrocessos
Com a redemocratização e a promulgação da Constituição de 1988, conhecida como Constituição Cidadã, abriu-se espaço para a retomada dos direitos sociais. No entanto, logo surgiram forças contrárias às conquistas populares.
O primeiro grande ataque ocorreu durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). FHC assumiu prometendo modernizar o país, mas sua política de privatizações, flexibilização trabalhista e desmonte do Estado atingiu duramente o legado varguista. Em diversas falas, FHC assumiu a intenção de superar o modelo trabalhista de Getúlio, considerado por ele um entrave ao “progresso”.
O segundo grande ataque aconteceu em 2016, quando a presidente trabalhista Dilma Rousseff, sucessora de Lula, foi afastada por meio de um processo de impeachment marcado por forte contestação política e descrito por muitos analistas como um golpe parlamentar. A queda de Dilma abriu espaço para reformas que atingiram diretamente os trabalhadores, como a reforma trabalhista de 2017, que enfraqueceu a CLT, e a reforma previdenciária, que ampliou o tempo de contribuição e restringiu direitos.
Lula e a retomada trabalhista no século XXI
Se o governo de Vargas foi o marco inicial dos direitos sociais no Brasil, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva representou sua atualização no início do século XXI. Em seus dois primeiros mandatos (2003-2010), Lula promoveu programas de combate à fome e à miséria, como o Bolsa Família, fortaleceu políticas de valorização do salário mínimo e ampliou o acesso ao ensino superior.
Hoje, em seu terceiro mandato, Lula enfrenta novamente o desafio de reconstruir direitos sociais e políticas públicas em meio a um cenário de crise econômica global, tensões políticas internas e resistência das elites. Sua agenda inclui a valorização real do salário mínimo, a retomada de programas sociais e o fortalecimento do diálogo com trabalhadores e sindicatos.
A luta de classes: ontem e hoje
Do suicídio de Vargas em 1954 ao atual governo Lula, a história brasileira mostra um padrão: sempre que governos trabalhistas promovem avanços para a base da pirâmide social, setores da elite reagem com golpes, pressões e retrocessos.
A data de hoje, ao relembrar a morte de Getúlio Vargas, convida o país a refletir sobre essa disputa histórica. Mais do que uma lembrança do passado, é um alerta para o presente: a luta por direitos trabalhistas e justiça social continua sendo uma batalha central no destino da nação.
Devemos prestar atenção especial, neste momento, aos movimentos do governo estadunidense que, caminhando para uma rápida decadência, quer levar o Brasil e a América Latina à divisão e conflito, enfraquecendo governos para recuperar o que eles mesmo chamam de "quintal".





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