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Um encontro de vidas marcadas pelo Instituto Agrícola de Menores de Batatais (IAMB)

  • jornaldeapoioedito
  • 14 de abr.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 16 de abr.

Nunca imaginei que teria a oportunidade de participar de um evento tão especial e marcante, como o 11º Encontro Anual dos ex-menores do Instituto Agrícola de Menores de Batatais (IAMB). Foi uma experiência que me tocou profundamente. A convite da associação dos ex-menores, como jornalista, eu tive o privilégio de estar presente no evento por algumas horas do sábado, dia 12, e posso dizer que foi uma experiência inesquecível. Passei o domingo debruçado sobre as anotações que fiz escrevendo o que hoje trago para os leitores do Batatais News.

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O 11º Encontro Anual dos ex-menores do IAMB, foi realizado nos dias 11 a 13 deste mês de abril, no local onde, na época do internato, era o Lar 3. Na minha infância e adolescência visitava regularmente o “Instituto”, como chamávamos, participando de jogos de futebol com os internos. Ao longo da minha vida tenho visitado o lugar inúmeras vezes. Mas, neste sábado, em especial, estar no local conversando com pessoas que tiveram suas vidas ali compartilhadas, foi algo inusitado e marcante.

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A presidente da Associação Histórica dos Menores em Ação (AHEMA), senhora Vera Lúcia Bettarello Borges, foi muito receptiva fornecendo informações importantes, assim como todos os demais representares da diretoria que ali estavam, como o Cristiano de Souza, Colaborador, o vice-presidente, Fernando Luis dos Reis Natale e o Conselheiro, Luis Carlos Chagas (FOTO). Outros membros que são colaboradores assíduos: Marcos Fernando Marciano (Conselheiro), Maria Aparecida Marques, Donizete Ferreira e Jorge Veiga. A Associação teve sua fundação estatutária no dia 18 de abril de 2016, mas ainda está se preparando para os registros para ter o CNPJ. Nesse período a diretoria teve permissão para estabelecer a sua sede nas dependências do Lar 3, local deste evento.

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Para os participantes, o evento e a programação transcorre em um clima de informalidade, como acontece em reuniões familiares. Os “ex-menores” se tratam como irmãos, mesmo com a presença de diferentes gerações que não tiveram convivência entre si durante o tempo do internato. As diferentes gerações convivem o ano todo em grupos de WhatsApp e nas redes sociais e o tratamento é de respeito e mutualidade.

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Um dos grupos informais formado por ex-menores, o "Infância Amigos Para Sempre" (IAPS), caracteriza bem o que eles vivem na prática desse ambiente familiar: “Amigos para Sempre”. Pessoas de origens diversas, mas com um mesmo propósito. São pessoas nas quais enxergamos a marca deixada pela formação recebida na extinta instituição (IAMBI) que sobrevive nessas pessoas que por ela foram formadas. São verdadeiros seres humanos - pessoas de caráter, sensibilidade e responsabilidade.

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Consegui conversar com diversas pessoas naquelas pouco mais de três horas, mas com duas delas, os mais idosos ali presentes, Fábio Lopes (89) e José Ferreira (88), a conversa foi programada por pessoas da direção do evento. Ambos fizeram parte da primeira leva de meninos que entraram no IAMB em 1947. Fábio viveu no Instituto de 1947 a 1957 e tem uma história incrível de 50 anos de trabalho na imprensa esportiva, social e policial de Ribeirão Preto. Trabalhou em sete emissoras de rádio e na maioria dos jornais impressos como colunista. Por isso tivemos certa facilidade em nossas conversas que apenas começaram, mas que poderão continuar.

 

José Ferreira, por sua vez, entrou no IAMB em 1947 e permaneceu até 1952 (o ano do meu nascimento). Ele tem uma vida repleta de histórias que levam à reflexão sobre a vida. Percebe-se, nitidamente, na conversa, a resiliência que forjou o seu caráter através dos anos. Apesar da infâncias sequestrada, pelo abandono, se tornou exemplo de sonhador, pessoa grata e capaz de almejar e trabalhar para termos um mundo melhor.

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A experiência vivida nesse sábado me fez refletir sobre a importância do IAMB na vida das pessoas que por ali passaram. A amizade e irmandade que se vive entre eles fez valer a pena ter participado e ter o privilégio de compartilhar esse texto com os leitores do Batatais News. De minha parte, este texto é apenas o prólogo para as muitas histórias que ainda poderemos contar.

 

Como aperitivo, daremos a seguir uma palhinha...

 

MEMÓRIAS DE UM MENINO SEM PAI, SEM MÃE,

MAS COM GRANDE EXPECTATIVA DE VIDA


José Ferreira nasceu em 9 de janeiro de 1937, em São Paulo. Veio ao mundo sem conhecer o rosto da sua mãe e sem ouvir a voz do seu pai. Teve cinco irmãos, dos quais só conheceu dois: Antonio dos Santos Ferreira e Odila Ferreira. Os três foram criados pela madrinha, Maria Barbosa, uma mulher marcada pela vida e pelo álcool.

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JOSÉ FERREIRA AO CENTRO


Aos 10 anos de idade, o juizado de menores bateu à porta da casa da madrinha. Sem entender bem o que estava acontecendo, mas sentindo medo, José foi tirado da casa da madrinha por pessoas estranhas, e levado para um centro de triagem na Rua Celso Garcia, em São Paulo. Depois disso, sua infância ganhou um novo endereço, pois foi levado para o Instituto Agrícola de Menores de Batatais, (IAMB), onde foi internado em 1947, segundo consta do seu prontuário.

 

Naquele novo e distante lugar, tudo lhe parecia estranho. O silêncio do campo contrastava com o barulho da capital e das suas dúvidas e interrogações sem respostas. O IAMB se tornou sua escola e também família. Ali ele achou abrigo seguro, apesar da dou poucos familiares que conhecera. Aprendeu a obedecer, a trabalhar e a lidar com o vazio. Permaneceu ali até 1952, quando tinha 16 anos de idade e seu irmão, Antonio, apareceu para leva-lo, se apresentando como seu tutor. Foi levado para Santo Amaro, mas aquela mudança repentina não foi das melhores coisas em sua vida. A expectativa de recomeçar a vida familiar durou pouco. Em apenas seis meses decidiu fugir e procurar seus próprios caminhos.

 

A partir dali, José Ferreira começaria a enfrentar a vida e, a ferro e fogo, aprender a viver - ou a sobreviver, como queira. Dormiu em banco de praça, comia o que aparecia, até que virou ajudante. Segundo ele mesmo conta, com certa dose de humor, profissionalizou-se como ajudante de tudo. Trabalhou como ajudante de pintor, de pedreiro, de eletricista, de encanador. Cada trabalho lhe ensinava uma nova lição. A vida que lhe deu pouco, exigiu muito, mas nunca lhe faltou serenidade e coragem para continuar.

 

Aos 25 anos, o destino finalmente lhe deu um alento: conheceu Leni com quem se casou em 22 de dezembro de 1962. Começando ali, foram 61 anos de casamento, caminhando juntos com muito amor. Leni foi o amor, o porto e o chão na vida de José. Tiveram seis filhos - Raquel, Rodinei, Gisele, Darlene, Fabiane e Cláudia. Rodinei e Gisele já partiram, mas deixaram boas memórias e um legado de amor na família. Dos seis filhos. o casal teve 22 netos e, até o momento, 8 bisnetos. O tempo, esse velho mestre, ensinou a José Ferreira, que a maior riqueza da vida é a família que ele perdeu ao nascer.

 

Com histórias suficientes para roteiro de uma longa e inspiradora biografia, José Ferreira vive em Curitiba com a filha Darlene e duas netas. Nessa viagem para o 11º Encontro Anual do IAMB, ele veio acompanhado pela neta Heloise e seu esposo Giovane, o bisneto Gael e a filha caçula, Cláudia (FOTO).

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Voltar a Batatais e encontrar irmãos da família IAMB é para José Ferreira como se o tempo tivesse dado voltas para o levar de volta ao início. Em nosso breve tempo de conversa, esse homem de 88 anos bem vividos, compartilhou que pretende relatar muitos episódios de sua vida. Quer que essas histórias sejam escritas para serem compartilhadas, não por vaidade, mas por gratidão pois, apesar de tudo - ou talvez por causa de tudo - ele nunca deixou de acreditar que a vida vale a pena. As dores vividas, cada uma delas, e foram muitas, se tornaram mestras inigualáveis que merecem reconhecimento da parte do aluno José Ferreira.

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PRETENDEMOS ESCREVER MAIS HISTÓRIAS DA VIDA DE JOSÉ FERREIRA, E DE MUITOS OUTROS

MEMBROS DA FAMÍLIA IAMB, PELA QUAL FUI ADOTADO.

1 comentário


Ivone Parente
Ivone Parente
16 de abr.

Que privilégio do jornalista ser convidado para esse encontro de irmãos e amigos para sempre! E que matéria sensível você escreveu! Vou aguardar a sequência das histórias prometidas, quero acompanhar todas. Parabéns a essa comunidade fraterna, que tem seu elo em torno da existência poderosa do IAMB. Desejo que vocês mantenham esse relacionamento afetuoso e raro em um mundo tão carrancudo.

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